"... pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isso com alegria e não gemendo, porque isto não será útil (não aproveita) a vós outros." (Hb 13.17b)
Demorei para entender esse versículo. E explico por que. Sempre entendi que um crente verdadeiramente chamado e vocacionado por Deus para ser um pastor do rebanho do Senhor, tivesse em seu coração um amor sem igual por este rebanho a ponto de suportar todo tipo de ataque e perseguição para protegê-lo e guardá-lo no Senhor.
Sempre acreditei que um pastor de verdade, um homem de Deus legítimo, se colocaria na frente da batalha para que uma ovelha do Senhor ainda em processo de fortalecimento espiritual não fosse atacada e sofresse com a covardia do inimigo de nossa alma.
Sempre pensei que não importando qual desafio tivesse que encarar ou que estrada tivesse que percorrer, um pastor renunciaria a seus interesses pessoais ou eclesiásticos em prol da integridade e preservação da comunidade na qual Deus o permitisse pastorear.
Sempre defendi que um verdadeiro homem de Deus não vendesse suas convicções e muito menos desprezasse a visão dada por Deus para determinada situação ou ação para que se tornasse mais “famoso” ou em melhor posição diante dos homens.
Sempre orei a Deus para que me fortalecesse para enfrentar os problemas e dilemas da lida pastoral com coragem, veracidade, honestidade e acima de tudo unção dos céus.
Chorei muitas vezes porque me sentia impotente diante dos problemas que meus irmãos me confidenciavam e implorava ao Senhor que interviesse de forma sobrenatural amenizando o sofrimento daqueles que não conseguiam entender o propósito de Deus.
Sempre achei que um pastor de verdade, um homem de Deus segundo o coração do Senhor, teria que ter essa empatia com o rebanho da qual Deus o direcionou para ser seu líder espiritual. Teria que ter esse "coração de pastor”. Um homem que se colocasse na brecha por eles, que se importasse sinceramente por eles.
Alguém que movido pelo Senhor lhes traria o consolo e o bálsamo do Espírito. Alguém que teria a orientação e os conselhos de Deus no momento da angústia e do desatino. Que traria a revelação da Palavra de Deus para os desanimados que vagavam sem direção no meio da congregação.
Acreditei nisso e ainda acredito...
Mas, confesso que mesmo com algumas experiências nesses anos de ministério, nunca entendi porque aqueles que dedicamos nossos esforços, nossa saúde, nosso tempo e nossas forças mordem a mão de quem os acarinha, ao invés de demonstrar alguma gratidão.
Não consigo entender como alguém que evangelizamos discipulamos e ajudamos nos primeiros passos da vida cristã e mais nos seguintes, de repente tem atitudes que nos ferem tão profundamente.
Nos preparamos emocionalmente, espiritualmente, teologicamente... Enfim, para suportar e contra-atacar os avanços do inimigo e suportar suas investidas ao rebanho. Mas, não conseguimos nos preparar para sermos atacados por aqueles que estendemos a mão. É algo imprevisto. Eu diria que é assustador.
Nesses anos de ministério pastoral descobri que as piores dores que um pastor de verdade pode sentir não são porque algum dos seus projetos ou planos para a igreja que pastoreia fracassaram ou que aquele evento não deu certo ou ainda porque não alcançou as metas traçadas para o ano em várias áreas da igreja. Ou aquele sermão não saiu do jeito que esperava ou a quantidade de pessoas convertidas não foram o que esperava.
As piores dores para um homem de Deus são em primeiro lugar quando alguém do rebanho que pastoreia se afasta de Deus e toma caminhos que o levarão a morte e não dá ouvidos aos seus alertas e advertências. É uma dor descomunal para quem tem um “coração de pastor".
A segunda dor terrível para um pastor de verdade é a dor da ingratidão. É como uma faca fincada em seu peito. Sangra e não quer estancar.
O que fazer diante dessas realidades? O que fazer diante desses fatos?
Como suportar essas dores e prosseguir com o cuidado das demais ovelhas do Senhor que anseiam pela orientação, pelo alimento e pela vida em Cristo?
Como estancar o sangue que jorra muitas vezes sem que possamos controlá-lo?
Como conter as lágrimas e o sentimento de perda? Como fazer para não pensar: "aonde foi que errei?"
Nesses momentos angustiantes uma das pessoas que sempre esteve ao meu lado é minha esposa. É o momento que palavras não resolvem. A simples presença, o apoio e o choro do amor ajudam a atravessar a noite ou o vale da sombra e da morte como diria o Salmo 23. Mas, ainda assim existirão outras noites e outros momentos que mesmo ela não conseguirá compreender e ajudar.
Alguns dizem que o ministério pastoral é solitário. E nesses momentos entendemos isso.
Mas, mesmo em meio as perguntas e indagações originadas dessas dores entramos em nosso quarto e oramos pedindo socorro tal qual Davi e então é que acontece algo surpreendente e glorioso. Podemos perceber que o Espírito Santo fala suavemente em nosso coração como que assoprando a pele dolorida e encharcando as feridas com unguento milagroso. Uma brisa invade o ambiente que oramos e inunda-nos de uma tranquilidade que até momentos atrás seria impossível imaginarmos.
Uma força vinda dos céus nos impacta e nos envolve. Começamos a lembrar e entender que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, e que nosso trabalho no Senhor não é em vão.
Somos revitalizados e a nossa mente discerne e temos a visão muito além das tristezas e da dor. Relembramos das realizações e operações que Deus efetuou através de nossa instrumentalidade. Lembramos daqueles que jaziam em trevas e agora se reunem para adorar a Deus, remidos pelo Senhor. O Espirito nos faz lembrar daqueles que estavam escravizados em vícios e más condutas e agora servem a Deus de todo o coração, livres como filhos de Deus. Lembramos do que Deus já fez, do crescimento das pessoas e da fidelidade divina que nunca nos abandonou.
Lembramos de cada um do rebanho, distintamente, individualmente, cada casal, jovem, adolescente, criança... Cada situação, cada livramento, cada transformação.
Me fez lembrar do que Ele fez na minha vida, na minha família...
O choro da dor se transforma no choro da alegria, do trabalho cumprido, do milagre da salvação exercido por Deus naquelas pessoas.
A dor vai passando...
Pelo menos até que outra venha.
Mas, agora sei o que fazer quando vier.
Porque sei que sempre haverá uma dor, um sofrimento, uma ferida.
Aqui nesse mundo ainda é assim. Mas, conheço o remédio. Conheço a saída. Sei em quem tenho crido. E sei que haverá um dia em que todo o choro e pranto cessaram. Que toda lágrima será enxugada.
Sei disso e isso me conforta e me prepara para o trabalho que tem que ser feito.
Por isso declaro:
Obrigado Senhor por cada situação, cada momento que me permite passar. Obrigado por tudo. Porque sei que sempre estás a me ensinar e me moldar para coisas ainda maiores. Obrigado meu Senhor e Deus pela Tua presença em minha vida que me fortalece e me faz mais preparado e experiente cada dia.
Glórias e Louvores sejam dados a Ti para sempre.
"Esperei confiantemente pelo Senhor, Ele se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro. Tirou-me de um poço de perdição, de um tremedal de lama; colocou-me os pés sobre uma rocha e firmou meus passos. E me pôs um novo cântico, um hino de louvor ao nosso Deus; muitos verão essas coisas, temerão e confiarão no Senhor.
Bem aventurado o homem que põe a sua confiança no Senhor e não pende para os arrogantes, nem para os afeiçoados à mentira. São muitas, Senhor, Deus meu as maravilhas que tens operado e também os teus desígnios para conosco; ninguém há que possa igualar contigo. Eu quisera anunciá-los e deles falar mas são mais do que se pode contar.""
Salmo 40: 1-5
Pr. Magdiel G Anselmo.
Nova Aliança em Cristo – SP
Magdiel G Anselmo
10/20/2010 16:36:44
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